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Meu Vizinho é um Zumbi, por Heloisa Galvez
El
e desconfiava, e dizia toda hora pra mãe:
-Mãe, tenho certeza que o Denis é um zumbi!
A mãe, jornalista e muito cética preocupava-se com a cabeça fértil de seu filho, pesquisou algo sobre a cultura vodu e foi além, conversou com cientistas religiosos, teólogos e outros “quitutes” com etiqueta, desses que jornalistas empíricos adoram.
-Mãe tenho certeza absoluta que o Denis é um zumbi.
-Zumbis não existem filho, a mamãe é jornalista e você deveria prestar mais atenção ao que eu digo.
-Não adianta mãe, tenho certeza...-é um zumbi.
O filho de 14 anos era o oposto da mãe, nascido na era do vídeo game e jogos de computador, projetava no mundo ao seu redor o que lhe incutia na mente tanta diversidade ficcional. O bom e o mau eram a mesma coisa pra ele, o mocinho nem sempre precisava ganhar no final, e a vida era uma atração viva de heróis , monstros, delicias e horrores. Ele não necessitava de uma tela de cinema, tudo em sua vida era um “faz de conta” real.
-Vou descobrir porquê o Denis é um zumbi. Disse ele.
A mãe desesperou-se por uns minutos, depois decidiu ver esse Denis mais de perto.
-Me mostra o Denis querido.
-Mãe! –você conhece o Denis!-é aquele menino com cara de morto-vivo que mora no 52.
A mãe lembrou de ter topado com um menino estranho com uma cara esverdeada e esquisita umas duas vezes no elevador. Pensou ser alguma doença, e nunca questionou.
-Ai filho!- já li sobre vodu e zumbis e sei tudo sobre eles; zumbis na verdade são...
Antes que a mãe desse sua explicação cartesiana, o menino já estava no elevador.
Deu nos ombros.
Seu cérebro racional não alcançava que seu filho não queria sair da história, não queria deixar de acreditar, e por essa imposição do inconsciente, nenhuma explicação por mais inteligível que fosse iria lhe caber. Será tão difícil entender isso? Para ela era.
O menino concebeu em sua mente que se Denis era um zumbi, sua mãe deveria ser uma “Mambo”, ou seja uma sacerdotisa vodu, e criou todo enredo dessa história, e ele pensava assim:
“Denis morreu há muito tempo, doença acidente, não importa. A mãe ficou inconformada e quis ter o filho de volta, a única maneira era trazê-lo como Zumbi, então se engajou em alguma seita Vodu, tirou o menino da tumba, e preferiu tê-lo abobado,mas ao seu lado, do que não tê-lo mais. Os anos passaram e ela cada vez mais enxertada na seita, agora já era Mambo, como Mambo tem poderes imensos, quero ter esses poderes também, e para agradar a mãe mambo, nada melhor do que começar, agradando o filho querido e abobado”
É uma explicação de um menino que acredita que o amor de uma mãe por um filho pode ser maior que a natureza das coisas. Túmulos, fotos e armários com roupas choradas do filho morto.
Tocou a campanhia da casa do Denis.
“Mãe Mambo” atendeu:
-Oi filho, quer ver o Denis?
-Sim, ele está? Ele sabia que se a mãe estava ele também estaria, era um bom psicólogo.
-Ta no quarto brincando, vai lá.
Foi, encontrou Denis desenhando.
Tentou uma aproximação tácita.
-Posso brincar?- Posso fazer uma casinha?
-Casinha?- isso é brincadeira de mulher, faz uma nave espacial!
O menino estranhou.
“Denis deve ter visto algum filme de extraterrestres ontem”
-Denis, porquê uma nave?
-Pra lembrar do meu planeta.
Ele entrou na brincadeira.
-Você não é da terra? –putz!-você é um E.T?
-E você não sabe?- Minha mãe me encontrou numa cápsula, ali, perto do cemitério, eu tinha uns dois anos.
Pronto. A história estava cerzida; Denis morreu com dois anos e a mãe o desenterrou. Para dar uma explicação menos arrepiante para o menino, fez o contrário, deu-lhe o cargo de ser de outro mundo, o que também se adequava a sua cor esverdeada. “Esperta essa mãe Mambo”
-Puxa cara!- de que planeta hein?
-Não sei o nome, mas sonho com eles todas as noites, sei que vêem me buscar quando eu completar 15 anos.
-Por isso desenha naves?
-Desenho as naves depois que sonho com elas. Tirou de uma gaveta uma pasta gorda cheia de desenhos.
Os desenhos eram realmente bons.
-Puxa cara!-você desenha bem pra caramba!-não joga vídeo game?
-Não, é muito fácil pra mim...
-Duvido você ganhar de mim no Space War III !
-Se eu ganhar, o que você me dá?
“Zumbizinho interesseiro”
-O que você quiser! Ele sabia que ninguém ganhava dele nesse jogo.
-Se eu ganhar, você vai comigo pro meu planeta.-eles querem um menino humano, não sei porque, acho que essa é minha missão aqui.
O menino nem ligou pr aquela história intergaláctica.
-E se eu ganhar?
-Isso é impossível.
-Digamos que eu ganhe?-você me conta todos seus segredos?
-Já contei.
-Outros mais?
-Tudo que você quiser saber.
Começaram o jogo, logo o menino percebeu que Denis não jogava tão mal, depois viu que jogava bem, constatou no final que ele era bom demais. Denis ganhou.
O menino ficou aturdido. “Um Semi-morto ganhou de mim!”
-Meu, cara!-Nunca ninguém ganhou antes de mim!
-Isso não é nada, vai aprender coisas que nunca pensou no meu planeta.
O menino desesperou-se, entendeu tudo num segundo, Denis e a mãe iriam forjar tudo, o levariam a um cemitério e fingiriam que a nave pousaria ali, o matariam em algum ritual vodu e o enterrariam. Depois de dois dias o tirariam da tumba e fariam com que virasse zumbi. Era isso!
-Bom Denis, valeu, você é o cara!-agora tenho que subir pra fazer lição de casa.
-Pra quê?- nem vai à escola amanha!
-Porque não?
-Amanhã faço 15 anos, vamos embora. a nave pousará a meia-noite atrás do cemitério, ninguém sabe, segredo.
“Tô frito”
-E sua mãe?-vai junto?
-Só vai pra se despedir.
O teatro consolidou-se. O menino correu, subiu pelas escadas do prédio com um único pensamento, precisava fugir dali, ou viraria um zumbi.
-Mãe!
Não encontrou a mãe, só um bilhete sobre a mesa “amor tive que viajar às pressas pra fazer uma matéria, volto na quinta, Rosalina ficará com você”....Beijos: mamãe.
“Na quinta já serei um zumbi! Que faço meu deus?”
Tentou pensar, nada lhe vinha a mente, ficaria verde pra sempre.
Resolveu escrever uma carta pra mãe, dizia que se voltasse verde e abobado é porque Denis e sua mãe lhe jogaram um feitiço, explicou toda história. Pediu perdão pelas grosserias e disse que tentaria ser um bom filho zumbi.
Não dormiu a noite toda, pensou que afinal não era tão ruim ser zumbi.Denis ganhara Space War com uma facilidade que nunca viu igual. Zumbis podem ser inteligentes, formariam uma nova raça esverdeada e dominariam o mundo. Dormiu.
Acordou com alguém o chacoalhando.
-Você dormiu demais!- hora de ir!
-Como que horas são?
-Onze da noite, eles devem estar chegando.
O menino acordou zonzo, veio um medo imenso, a tumba, a poção, ser enterrado vivo.
-Denis, eu preciso mesmo ir?
-Sim, quer ficar neste planeta de tontos?
Pensou que este era um bom argumento. Foram.
Chegaram perto do cemitério quase meia noite, o menino estranhou que não entraram, deram a volta por trás e pararam num imenso terreno baldio.
“Mãe Mambo” chorava agarrada ao filho:
-Meu amor, mande notícias se puder...
Denis abraçava a mãe e incrivelmente também chorava:
-Eu volto mãe, um dia volto pra te buscar...
Nesse instante uma nave materializou-se diante deles. Não era grande como o menino estava acostumado a ver no cinema, ao contrário, pareceu-lhe muito pequena.
De dentro saiu um ser com aparência normal, parecia humano, a única diferença era a pele levemente esverdeada.
-Olá Denis.
-Oi Dr. “Z”.
-Esse é seu amigo?
-Sim, é ele que irá conosco.
O “homem” abaixou-se:
-Denis, infelizmente, não posso levar você agora, ainda tem uma missão muito importante nesse planeta.
Denis frustrou-se
-Sim meu pequeno, monitoramos lá de cima uma estranha seita chamada “Makaya”,uma dissidência maléfica de religiões haitianas, usam magia negra, e vimos que estão se alastrando pelo mundo.
-Como assim?
O menino interessou-se.
-Simples, esses falsos mestres, dão às suas vítimas uma bebida; um condutor que leva a um sono tão profundo que todos pensam que está morta. Ela contem veneno de rã, de baiacu entre outras coisas, está tudo anotado aqui. Estendeu uma espécie de chip para Denis e continuou:
-Todos pensam que a pessoa morreu, e a enterram. -depois de alguns dias os feiticeiros bokors a retiram da tumba, dão uma espécie de antídoto e a criatura recobra os sentidos, porém fica abobada e escravizada, um morto vivo entendem?
O menino gritou eufórico!
-Sim, viram zumbis!
O estranho olhou para ele admirado:
-Vejo que seu amiguinho é a pessoa certa para ajudar você Denis!-escolheu bem!
Denis orgulhou-se.
Bem, está nas mãos de vocês acabar com este culto terrível que quer dominar o mundo! –todas as informações estão no chip.-agora tenho que ir.
-Ah, antes. E virou-se para o menino -vou dar a você outro chip e esse pequeno neuro-transmissor, quando quiser se comunicar conosco para passar informações é só coloca-lo no pulso.-vi que você será muito útil.
-Uau!
A nave partiu. Deixou ali uma mãe aliviada, um ET decepcionado e o elemento que faltava; um menino louco pra pegar esses zumbis.
Dentro da nave o companheiro do “homem” falou:
-Como sabia que esse menino era o fio condutor?
-Mãe jornalista e cética.
-Claro! E bateu nas costas do outro.
Muito bom, mais é horrivel quando nos abandonam aqui!!!!
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